Wednesday, May 26, 2004

Capítulo (continuação - 3)

- Ainda não meu amo. O parto está difícil…

Ao ouvir estas palavras o Barão tremeu. Teve mesmo que a um velho bengaleiro sem verniz se encostar, que servia para pendurar o casaco dos criados. Joaquim apercebeu-se e suavemente lhe pousou a mão no ombro. Alexandre, passados breves momentos, retomou a pose altiva que tanto o caracterizava. Com voz suave mas autoritária falou ao criado:
- Joaquim, em ti confio muita coisa. Embora de classes sociais diferentes sejamos, embora eu seja patrão e tu criado, o que agora te vou dizer e pedir será algo que esquece as nossas raízes. Que as ultrapassa. Estás ao corrente de tudo o que aconteceu este ano. Chegaste a levar-me de coche a casa de Clarisse nas frias noites de fevereiro e nada divulgaste a ninguém que eu bem sei. Nunca te perguntei o que pensavas. Eu sei, e sempre soube, o que faço. Também amanhã sei o que farei. Por isso escuta o que te vou ordenar. Melhor. Não te ordeno. Peço. E é o seguinte: amanhã, depois do parto, fazes desaparecer Clarisse. Não quero saber mais dela. Quer a criança viva ou morra. Tomei uma decisão que não alterarei. E bem sabes que as minhas decisões não altero. Serei sempre, a partir de agora, fiel à minha esposa. Mesmo que ela filhos não me possa dar. Se esta criança sobreviver tratá-la-ei como filho que de mim e da minha mulher fosse. Quero que propagues a notícia de que minha esposa é sua mãe. Se a criança falecer, peço-te que arranjes força para tudo esquecer., e também te digo…
Nesse momento um grito do quarto ao fundo do corredor a casa percorreu. Um grito de profunda angústia. De mulher que sofre para à terra um filho oferecer. O Barão e Joaquim entreolharam-se. Um espanto sentiram. Ao homem não é permitido conhecer as dores pelas mulheres sofridas. As suas penas para trazerem um ser humano ao mundo, talvez o que de mais encantador há. Uma criada do quarto saíu apressada. Mas ao ver ali o seu amo estacou assustada. Alexandre quase lhe berrou, nervoso:
- Fala mulher. O que está a acontecer?
Depois de breves momentos em silêncio, assustada com a presença do amo, a criada gaguejou:
- Está difícil o parto. Clarisse sofre bastante. E já lhe atacou a febre. Pobre mulher… se me permite meu amo, vou buscar mais água a ferver à cozinha – e sumiu-se apressadamente.
Entretanto os gritos aumentavam. A agonia parecia atingir o seu máximo. Outra criada saía com trapos ensaguentados do quarto. E dirigia-se também à cozinha sem em Alexandre reparar. A outra criada passou com a bacia de água a ferver. O Barão e Joaquim olharam para esse rebuliço. Estavam também horrorizados pela sinfonia de gritos que o corredor escuro abalava. Alexandre travou do braço de Joaquim. Baixou a cabeça e sussurou: «Meu Deus, meu Deus… faz com que a criança sobreviva.»


Joaquim, o fiel criado

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